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As Revistas, com carinho…


Nossos pensamentos sempre estão ligados a três focos, um no passado, daquele momento nostálgico, onde as coisas pareciam ser mais simples; um no presente, no qual os perrengues do dia a dia fazem com que achemos estar cada vez mais sem tempo; e um no futuro, onde ansiamos estar lá, tranquilos e calmos.

Hoje em dia pensar no passado está na moda, na verdade, ter elementos deste passado próximo está garantindo os comes e bebes de gente graúda no mercado internacional de jogos eletrônicos e, cada vez mais pessoas, empresas, estão integrando-se nele, vide o ressurgimento de títulos do passado, lançado para Atari 2600, NES, Mega Drive e afins, aparecendo a olhos vistos nos novos consoles, com o XBoX One, PS4 e Wii U.

E é nesta grande monta, neste movimento de volta ao passado, que eu estou inserido. Escrevo sobre retrogaming, não porque é moda, mas sim porque aqueles grandes momentos foram um prazer indelével que sempre estarão na minha memória, assim como a infância e a adolescência com o pai e mãe, avós de todos que aqui estão lendo estas breves palavras.

No artigo de hoje gostaria de falar acerca de um elemento importante para a vida de todo jogador de videogame daquela época, tal qual foram as locadoras que descrevi semana passada, que são as revistas especializadas, no Brasil, de videogame.

AS REVISTAS

Você vai numa locadora e espera ansiosamente por sua vez para entrar nela – dependendo da cidade, a mesma era bem concorrida pela criançada e os adolescentes -, escolhia aquele jogo X e ia para casa morto de feliz por pegar aquele título, mesmo sem não entender nada de inglês – e tão pouco japonês. Colocava a fita, jogava alucinadamente até que… travei!

Quem aqui nunca pegou algum jogo que, por ventura do destino, chegava-se até certo ponto e era impossível de passar? Você não sabia o que fazer? Ia e vinha e nada. Mas que droga… e agora?

Então acaba por se lembrar daquela revista que tinha comprado a duas semanas atrás que falava justamente sobre aquele jogo. Que ele era isto e aquilo e que valia a pena em ter na sua coleção. Você o havia alugado justamente para testar e, quem sabe, pedir para a sua mãe de natal ou aniversário. Talvez ali tenha alguma dica, ou, até mesmo, várias, para passar daquela fase chata.

Ao chegar na sua coleção de revistas, cada pilha em separado, uma para Ação Games, outra para a Videogame, uma terceira para SuperGame e a última para GamePower, compradas religiosamente na banca do Seu Pereira, lá na pracinha, começa a fuçar uma por uma para ver se conseguia achar aquela que falava daquele jogo maldito.

As Velhas e Boas revistas.

As Velhas e Boas revistas.

Passando os olhos por cada página, por cada figura, os textos, as cartinhas do leitor, as dicas, as perguntas e os recordes, tem aquela sensação, aquela gana, aquele sentimento, que gostaria de jogar todos os jogos do mundo ao mesmo tempo, mas sabe que o seu pai, sua mãe, sua tia ou seu tio preferem dar roupas a games e só com muito choramingo é que se consegue um novo jogo, ou, nas palavras da sua mãe: “Se tirar nota boa no final do ano, te damos o jogo que você tanto quer.”

Mas que jogo? Como escolher um entre dezenas que o pessoal da Ação Games deve jogar todos os dias? Pegar somente um? UM? Se pegar Mario 3, não pode pegar Tartaruga Ninja 2, mas eu queria tanto o Megaman 2 e Double Dragon 2? Se eu tivesse outro videogame poderia pedir um Shinobi do Master ou um Sonic. Estes videogames deveriam ser compatíveis para eu não ter de pedir outro videogame e me falarem não.

Só um jogo? A tentação era grande, mas escolher só um entre dezenas era uma como pedir para beber apenas um golezinho de Coca-Cola daquele garrafão de 1L no dia de domingo. Só um golinho porque mãe?

A única coisa que podia fazer era ficar um pouco chateado e continuar a procura pela aquela dita cuja revista que fala daquele maldito jogo que você não consegue passar e, de repente, você passa os olhos naqueles anúncios de vários videogames a venda e os pilotos da Ação Games.

INVEJINHA BÁSICA

Daí, de repente, você tem em suas mãos a Ação Games nº 8 e acha que é esta revista é a salvadora, lá estava o jogo Totally Rad, deve ter algo além de falar sobre o mesmo, uma dica, por menor que faço.

Como era final de semana, ficou folheando um pouco a revista antes de chegar lá na página do dito cujo jogo. Foi então que sempre que chegava naquelas páginas onde mostravam os pilotos, aquela invejinha básica subia no coração.

sempre nos trazem fortes emoções.

sempre nos trazem fortes emoções.

Lá estavam eles, na página 22, Ioiô, Marcelo, Ricardo, Rodrigo e Christian, os “feras” da Ação Games, testando múltiplos controles para o Phantom System e para o Master System e tudo o que você podia fazer era uma caixa de muxoxo e sonhar alto, quem sabe, um dia, ser um piloto e passar o dia jogando videogame e só isso? Nem a possibilidade de pagamento passava por sua cabeça, o importante era jogar videogame.

Depois de momentos de sonhos a plena luz do dia, você continuava a folhear as páginas, um anúncio da Polytron, com vários jogos e cartuchos. Mini Games, no qual você já estava enjoado de jogar o seu da Mônica por horas a fio, aquele anúncio maroto da Dynacom com o seu Dynavision 3.

E, por fim, chegou ao Totally Rad, esperando que tivesse alguma coisa e nada… Será que a Videogame teria alguma coisa sobre o jogo?

A BUSCA POR INFORMAÇÃO

Você se lembra que a revista Videogame tinha feito algo sobre o jogo, daí não é para a sua surpresa que o mesmo era CAPA da revista de número 8? Se é capa, é porque deve ter muita coisa sobre ele.

Folheou rapidamente para o índice e lá estava a página 26 falando sobre o jogo. Foi passando rapidamente pelas páginas e que inveja daquele Turbo Express, mas deixa para lá, a ânsia por terminar aquele jogo era maior e foi ali que, lá estava e você tem um sorriso de uma ponta a outra do rosto com um detonado que a Videogame fez sobre o jogo!

Agora sim eu finalizo isso, pensou para si. Pegou a revista, se levantou e foi ler o que tinha de ler para como matar o peixão chato do Ato 3.

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Qualquer um passou por uma situação semelhante. As revistas de videogame faziam presentes no cotidiano de todo jogador, seja lendo na banca de revista, pois o tio deixava, seja na locadora, onde algumas disponibilizavam alguns exemplares ou em casa, quando a mãe ou o pai davam uma grana para você comprar elas.

E os anúncios então?

E os anúncios então?

As revistas eram um espetáculo à parte, já que grande parte delas eram feitas de forma bem braçal e com informações bem escassas – onde as mesmas eram recebidas com meses de atraso ou nada a ver com que os públicos americanos, europeus e japoneses sabiam antecipadamente – e, assim, as vezes as mesmas inventavam as coisas.

Seja por mais, seja por menos, estes pequenos espaços virtuais em forma retangular, com fotos, textos, promoções e suas mascotes, foram companheiros de toda uma vida gamer e, assim, ficarão eternamente nos corações de todos aqueles que foram leitores delas.

Simples assim.


Nostalgia, uma nova fonte de Renda…


Desde o final da Sexta Geração – que consiste do Dreamcast, da SEGA; PS2, da Sony; GameCube, da Nintendo e o XBoX, da Microsoft – vemos um considerável aumento da nostalgia que cerca o mundo gamer. A Sexta Geração foi marcada pelo lançamento de várias franquias famosas, como Halo, God of War e outros, mas, no entanto, as velhas franquias das gerações anteriores sempre se mostraram presentes.

Uma nova fonte de renda para o mercado gamer começou a despontar aí. Cada vez mais víamos as marcas já consagradas por anos e anos de uso aparecerem nos consoles daquela geração. Virtua Fighter? Já estava na sua terceira edição. Final Fantasy seguia firme e forte para a sua 12ª edição e Mario já tinha um quão sem números de jogos em sua enorme bagagem no mundo dos jogos.

Muitas destas franquias que continuaram na Sexta Geração também foram lançadas para a Sétima Geração (XBoX 360, PS3, Wii, PSP, Nintendo DS) de uma forma impressionante. Houve um passo muito pequeno na criação de franquias novas, mas, em contrapartida, franquias com anos de existência continuavam – e continuam – a render bons louros para as desenvolvedoras. Claro que para quem é fã, quanto mais jogo melhor, mas a forma que percebe-se isso é que há, na verdade, uma estagnação criativa em várias desenvolvedoras, temerosas em investir em algo que seja novo.

A Sexta Geração aqui.

A Sexta Geração aqui.

Seja na PSN, na Live ou na Nintendo Network, na Sétima Geração, ou na atual, a Oitava (One, PS4, Wii U, PSVita, 3DS) vemos a cada dia que passa um quão sem número de jogos antigos das gerações anteriores (Terceira, Quarta e Quinta Geração) ganharem cada vez mais nestas Redes Sociais e vendas das suas respectivas empresas. Algumas vezes os jogos antigos sequer recebem um tratamento adequado para rodar em televisões de alta resolução e som Quadriplex UltraSound Mega Explosion e acabamos por ter uma certa imagem distorcida de um jogo que tanto amamos.

E é nisso que consiste a nostalgia. De acordo com o Dicionário Houaiss, esta palavra significa “saudades de algo, de um estado, de uma forma de existência que se deixou de ter; desejo de voltar ao passado”, e, por conta disso, que muitas empresas se prendem a marcas que foram inventadas a muito tempo, pois misturando a nostalgia de um público que foi fissurado em seus jogos nos anos de 1980 e 1990, as empresas estão com a faca e a manteiga na mão, enquanto que nós, meros jogadores, consumidores em potencial, estão com o pão implorando por mais daquela manteiga.

Nada contra isso, claro, toda e qualquer empresa quer ter lucro, mas, muitas vezes, podemos ver a maneira de como as empresas – seja de qualquer ramo – partem para cima nesta tentativa de terem lucros. Muitas vezes os jogos que tanto amamos e apreciamos sofrem um remake e um reboot e os mesmos não ficam a par do passado, outras, como dito acima, são lançados inúmeros títulos até esgotar o produto – Guitar Hero, Tomb Raider e Crash são alguns exemplos a serem citados – e, depois, são jogados no fundo do baú para o esquecimento quase completo.

Um dos poucos reboots que realmente funcionaram.

Um dos poucos reboots que realmente funcionaram.

A forma da manipulação sobre a massa usando-se um sentimento que é inerente de todo ser humano – a saudade, a falta, o anseio de voltar-se para aquele momento querido – pode render muito para as empresas, mas, por outro lado, se esta manipulação não for bem trabalhada, o efeito poderá ser completamente o oposto, ao invés do amor sobre a coisa tão querida, um ódio surgirá e, por conseguinte, o desgosto completo sobre aquela marca será o mote para todo o sempre.

Fico na esperança que a Nintendo, a Square, a Capcom, a Konami, a SEGA e tantas outras empresas revejam os seus conceitos de relançamentos constantes e que criem coisas novas e inovadoras, mas sem esquecer do passado – e sem usá-lo exageradamente, pois não creio que a nossa nostalgia deveria ser um produto puro e simples, mas deveria ser tratado com respeito e reverência.